terça-feira, 1 de junho de 2010

''Ecoexpert'' dá nota 4 a Casa Cor sustentável


Especialista encontra deslizes em evento com bandeira ambientalmente correta

Arquiteta Débora Aguiar, campeã em sustentabilidade da exposição Casa Cor de 2009, forrou o piso de seu ambiente com madeira de demolição; uma solução ecologicamente correta, e até louvável, se ninguém olhar para o teto rebaixado com gesso, considerado um dos materiais mais agressivos ao meio ambiente e que mais leva tempo para se decompor.

Débora construiu sua Casa do Mirante em torno de uma árvore, para não precisar derrubá-la. Na suposição de que aquilo seja sustentável, o engenheiro elétrico Airton Dudzevich, especialista em sustentabilidade e engajado com o tema desde 2000, informa que a árvore não permaneceria viva em uma casa real.

O Estado levou Dudzevich para uma "blitz" na Casa Cor, exposição autodefinida como sustentável. "A sustentabilidade é um tema eterno da Casa Cor, sempre vamos reforçar essa intenção, mas não podemos mandar nos projetos dos arquitetos. Apenas os estimulamos a fazer algo sustentável", diz o presidente da mostra, Ângelo Derenze.
Tempo. Em uma caminhada pelos 56 mil m2 da exposição não se veem coletas seletivas de lixo. Todas as lixeiras são de plástico preto, sem especificação de material recolhido.

Débora explica que "o prazo para a montagem do ambiente é curto, e a sustentabilidade precisa de tempo". "Muita coisa eu estou aprendendo, acho que a sustentabilidade não é só moda, é cultura."
Ela fixou na grama do jardim uma placa de membro do Green Building Council Brasil (GBC), instituição com reconhecidas credenciais de sustentabilidade. "Qualquer um pode ser membro e nos apoiar, sem para isso submeter um projeto a avaliação", informa o gerente técnico do GBC, Marcos Casado.

O prêmio de ambiente mais sustentável de 2010, que tem o mesmo peso do de criatividade, vai ser anunciado hoje. O júri não é composto por técnicos em sustentabilidade, mas por jornalistas e fotógrafos da área.

Ambientes. Vizinho a Débora está o "Loft de Inverno Sustentável" que, na definição de sua autora, Fernanda Marques, é "uma casa que amplia seus horizontes, não se confina. Está concretamente aberta ao mundo, à natureza, a seus habitantes". Dudzevich acha bonito, mas não identifica nada muito sustentável.

Para ele, a sustentabilidade envolve ambiente, economia e sociedade. Em sua empresa, que tem 4 mil m2, há 20 sistemas sustentáveis em funcionamento. A água da chuva é aproveitada na descarga da bacia sanitária, no mictório, na lavagem do piso e num aquário com carpas. O aquecimento da água é feito com tubos de vidro isolados a vácuo. O sistema de resfriamento do auditório funciona naturalmente por gerotermia, que mantém o ar a 22ºC, com o aproveitamento das temperaturas frias do solo. Chuveiros e torneiras estão equipados com arejador, um dispositivo que diminui o consumo de água, ao misturá-la com ar. Nos fundos, as salas são ocupadas por aulas de caratê, balé e dança para comunidades carentes. A inclusão social é outro requisito da sustentabilidade.

Na Casa Cor, brinca Dudzevich, a inclusão social só se verifica na quantidade de empregadas necessária para manter limpos os sofás, tapetes e pratarias.

Depois de passar pelo "Loft da Mulher Bem Resolvida", que tem seis televisões em um espaço de 36m2, ele explica que a sustentabilidade requer equilíbrio: nada em excesso, nem faltando. No loft do jogador de polo, inspirado em Ricardo Mansur, há duas picapes de DJ.

O excesso não parece ser problema para as sofisticadas visitantes da mostra que, na fria manhã de sábado, aproveitaram para tirar do armário casacões, botas e bolsonas. Levando uma de crocodilo no braço, a advogada Maria Lúcia Cardoso está encantada com as duas máquinas de lavar roupa da lavanderia, que tem 12m2. "Gente, amei", diz para a amiga, a dentista Paula Fiori.

Mau exemplo. Um dos píncaros da "insustentabilidade" é o Loft do Artista, onde há um carro ao lado da cama. "Imagina o que é acordar em uma garagem", diz Dudzevich.

Ele explica que a Terra tem uma área bioprodutiva de 13 bilhões de hectares, para uma população de 6,2 bilhões de pessoas. Um "foot print" (pegada ecológica) de 2,1 hectares/pessoa. A média mundial é de 2,9, ou 35% a mais que a capacidade do planeta. A do Brasil é de 2,4.

No final do périplo, ele deixa a exposição duplamente impressionado. Com a beleza, "nota 8", e a sustentabilidade, "nota 4".

Fonte: estadao.com.br

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